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ANTI-STALINISMO
Assim como os massacres fascistas
ajudaram a obscurecer a natureza do fascismo, a repressão stalino-socialista
ajuda a silenciar o essencial. M.
Ollivier denuncia – Le GPU en Espagne – mas,
ele também põe somente o problema dos partidos, não o do Estado [1].
A liquidação do P.O.U.M. é a ocasião para fazer passar este partido
como o mais radical. Ele era apenas
demasiado frágil para desempenhar um grande papel.
Se o governo republicano “acabou de
ressuscitar a luta de classes” [2], ela - a luta de
classes - opõe então o proletariado à burguesia republicana como
àquela que apóia Franco. Ora,
Ollivier não convoca à destruição do Estado republicano. Ao contrário: é necessário combater pelas “realizações
socialistas”... que serão atacadas, no verão seguinte, em Aragão pelo
Estado republicano.
O Comitê pela Revolução Espanhola [3]
denuncia a repressão contra o P.O.U.M. porque enfraquece a guerra dos
republicanos contra Franco: agindo assim, a República se privaria de um apoio
popular necessário. Esse comitê não
diz nada a respeito do comportamento conciliador e criminoso da C.N.T. e do
P.O.U.M., em maio de 1937. Portanto, a calúnia e a ignomínia
social-stalinistas não foram rechaçadas publicamente (excetuando-se algumas
publicações da esquerda comunista) a não ser por aqueles que, na realidade,
defendem a mesma linha política, e se opõem apenas aos métodos, sem
compreender que tal linha implica obrigatoriamente tais métodos.
O antifascismo queria a “verdadeira” democracia apodrecida pelo
capitalismo, eles queriam o “verdadeiro” antifascismo apodrecido pelo
stalinismo.
No seu prefácio a Le Stalinisme
bourreau de la révolution espagnole, 1937-1938, Rosmer escreveu: “É
necessário, antes, liquidar Franco. Mas depois da vitória, haverá ajustes
de contas e a Revolução retomará sua marcha adiante” [4].
O êxito da repressão, porém, demonstra que não existe revolução
espanhola. A denúncia unilateral dos crimes de Stálin (que são também
crimes dos socialistas) encobre o resto.
A “luta contra a repressão”, que toma a forma de anti-stalinismo
como tomara antes a de antifascismo, não constituiu jamais um programa
revolucionário. Isolada enquanto
tal, como no antifascismo, ela levou necessariamente
a praticar a política do mal menor, a apoiar o mais tolerante contra o mais
repressivo (os socialistas “são preferíveis” ao P.C., os E.U.A. são menos
ruins do que a U.R.S.S. – ou o inverso etc).
Como se os socialistas (sobretudo, na Espanha) não fossem cúmplices dos
stalinistas, evitando mencionar os processos de Moscou e convidando Jouhaux para
arbitrar os conflitos na U.G.T. em proveito do P.C.! [5]
Durante a guerra fria, o antifascismo
reaparecerá em certas correntes situadas entre os partidos oficiais e os
revolucionários, mas desta vez sob a forma de apoio ao “mundo livre” contra
os países do leste europeu, considerados ainda mais repressivos e monstruosos.
O totalitarismo substitui o fascismo, como inimigo principal. Para
outros, como Sartre, o “mal menor” será, ao contrário, representado pelo
P.C. e pela U.R.S.S. O anti-stalinismo é o pior produto do stalinismo.
Isso vale para todos aqueles que se fazem especialistas em
denunciar os crimes e repressões stalinistas (ou leninistas) [6].
[1]
Le Guépéou en Espagne. Les journées sanglantes de Barcelone (du 3 au 9 mai
1937 ), Spartacus, 1937, pp. 2-3.
[2]
Le Guépéou en Espagne. Les journées sanglantes de Barcelone (du 3 au 9 mai
1937 ), Spartacus, 1937, pp. 28-9.
[3]
Le Guépéou en Espagne. Les
journées sanglantes de Barcelone (du 3 au 9 mai 1937 ), Spartacus, 1937, pp.
30-1.
[4]
Brochure de Katia Landau, esposa de Kurt Landau, «ex-secretário da Oposição
de esquerda internacional [trotskista], que se solidarizou com o P.O.U.M. contra
Trotsky » (Broué, Témime - La révolution et la guerre d’Espagne,
Ed. de Minuit, 1961, p. 278), e foi assassinado pelos stalinistas. A reimpressão da edição original (Spartacus), em 1971,
inclui uma “crítica de ultra-esquerda” que faz da revolução um problema
de forma, de organização democrática: os grupos revolucionários
devem ser “autônomos” e “se basear na auto-organização espontânea do
proletariado” (p. 49).
[5]
Alba, op. cit., p. 340.
[6]
Por exemplo, depois de 1945: Masses, les Cahiers Spartacus, La Révolution
Prolétarienne; Monatte, em Trois scissions syndicales; V. Serge,
em Le nouvel impérialisme russe etc.
No pós-guerra, o P.O.U.M. no exílio proporá a mais ampla aliança
contra o fascismo, monarquistas inclusive, mas sem o P.C., por seu
totalitarismo. Cf. Internationalisme,
no. 35, junho de 1948, reproduzido no Bulletin d’Etude et de Discussion
de Révolution Internationale, no. 6.