Revolução - Jacques Camatte

Texto que levanta a questão da auto-emancipação do proletariado na era da subsunção real ao capital, em contraste com as lutas na era da subsunção formal ("velho movimento operário" com seu "reformismo revolucionário"). O texto defende que, na época da subsunção real, a revolução não é simplesmente uma questão política, mas concerne a uma total transformação no modo de produzir e viver

Submitted by Joaos on January 2, 2017

[Texto traduzido e publicado pelo Grupo Autonomia em janeiro de 2005 no site Biblioteca Virtual Revolucionária.  Foi traduzido a partir da versão em inglês  (ABOUT  THE REVOLUTION, que pode ser encontrada em http://www.reocities.com/~johngray/abtrev.htm), traduzida (por David Brown em 1982), por sua vez do original em francês publicado em Invariance: Serie 2, # 2 - abril de 1972.]

Diversos grupos, surgidos desde 1945, recusaram-se a aceitar a morte do velho movimento operário. Isto, que seria proclamar sua própria negação, não impediu que a evocassem, interpretassem e teorizassem  como crise do movimento operário, geralmente vista como crise de direção revolucionária. Muito raramente as causas da morte são procuradas na classe, porque foi rejeitada a afirmação de que o proletariado está integrado e abandonou sua missão (como Trotsky já afirmara, em 1939, no texto “A  URSS na Guerra”). Algumas pessoas interpretaram este fenômeno, explicando que o capitalismo se modificou ao se tornar capitalismo estatal ou burocrático, mas que o proletariado continua o mesmo e mantém a mesma missão – daí o plágio do manifesto Comunista pelo grupo francês Socialismo ou Barbárie. Não se trata de protestar, em nome da santidade dos textos clássicos, contra a produção de um manifesto, ainda que se tenha copiado o de 1848, mas de tornar claro o limite da proposição. Nesta perspectiva, deveríamos notar que a Internacional Situacionista, fundada alguns anos depois, agiu do mesmo modo. (Em contraste, Potere Operaio e Lotta Continua propunham um neoleninismo).

Houve pessoas 1 que compreenderam o significado da derrota do proletariado em 1945 e, portanto, deduzindo a inutilidade da missão do proletariado, rejeitaram a teoria de Marx. Afirmavam (e isto foi teorizado de 1000 maneiras diferentes, depois) que o proletariado estava desaparecendo nas áreas altamente industrializadas; que eram grupos marginais que iriam realizar o velho projeto proletário ou mesmo que seriam os camponeses em revolta na zona não subjugada pelo capital que reativariam a dinâmica revolucionária.

Bordiga também compreendeu plenamente a derrota do proletariado e o desenvolvimento orgiástico do capital, depois de 1945. Em 1952, ele escreveu: “Nós afirmamos muitas vezes que o manifesto é uma apologia da burguesia. Hoje, depois da Segunda Guerra Mundial  e da reabsorção da revolução russa, acrescentamos que deve ser escrito outro.” (Il Marxismo dei cacagli). O desenvolvimento do capital numa escala mundial iria, segundo Bordiga, aumentar o proletariado, e a crise resultante do crescimento extraordinário impulsionaria o proletariado nas velhas metrópoles. Em particular na Alemanha, que era vista como o centro da futura revolução.

As diversas recessões, bem como os contra-golpes das revoluções anticoloniais de modo algum levaram à restauração da agitação revolucionária, na Europa ocidental e nos EUA. A passividade do proletariado parecia mesmo ter se tornado permanente, no início dos anos 60. A teoria e a prática de grupos como o SDS alemão, grupos similares nos EUA, o Zengakuren no Japão tinham por objetivo despertar novamente a força revolucionária do proletariado mediante ações exemplares. Eles (especialmente, alguns do SDS) perceberam a importância da derrota e pensavam que o movimento operário tinha regredido 100 anos. Intuíram um novo início, uma nova época... Foi por isso que desapareceram na fase insurrecional, que culminou em Paris e México, em 1968.  Ou teriam depois se dissolvido. A dissolução do SDS, em 1970, foi criticada, mas era apenas uma comprovação da validez da atividade anterior. Eles tinham que desaparecer com a emergência da nova situação revolucionária. De modo semelhante ao movimento maoísta na França, que, paradoxalmente, exceto por alguns pequenos grupos isolados, melhor expressou o movimento espontâneo nascido da crise de maio. A vida catastrófica das organizações maoístas é a melhor prova do que estamos antecipando. Pregavam uma ideologia esboçada e manipulada pela revolução cultural chinesa, nos choques revolucionários de maio de 68 e depois. Mas a cada momento o conteúdo mostrava-se mais poderoso do que a forma e a fazia explodir. O desejo de ficar com as massas em revolta os induzia gradualmente a mudar o terreno (na medida em que as lutas se deslocavam de um grupo social a outro) e a assumir várias demandas, às quais originalmente se opunham ou ignoravam: a luta contra os sindicatos, vistos como organizações fundamentais do jugo capitalista; pela emancipação da mulher; pela revolução sexual etc. Em outras palavras, sua fraseologia política desmoronava e se esfolava quando confrontada com necessidades totais.  Eles tinham que reconhecer que a revolução não é simplesmente uma questão política, mas concerne a uma total transformação no modo de produzir e viver, a tomada do poder é somente um momento da revolução e reduzir tudo a esse momento leva pura e simplesmente a deixar de compreender todas as dimensões da revolta do homem, todas as dimensões da revolução.

Depois do choque de maio, precedido pelo vasto movimento que se desenvolveu em duas áreas com diferentes momentos históricos, China e Ocidente, e que prosseguiu: grandes lutas na Itália, as primeiras greves selvagens na Alemanha, as greves de Kiruna, as rebeliões tardias de 1970, na Polônia, a grande revolta no Ceilão em 1971...  O proletariado é contido nos grupos que são as ruínas do velho movimento operário (que agrupam centenas de milhares de trabalhadores, como o PCF, ou só algumas centenas). Eles organizam um passado que deve continuar, de modo tal que iniba todo movimento real de luta, o que não impede alguns deles - o PCF e o PS, na França - de alterar seus programas para se adaptar à maré revolucionária que eles também sentiram emergindo.

Enquanto todas essas pessoas agiam para tirar o proletariado de sua letargia, aqueles que haviam se manifestado ou lutado nos anos anteriores eram meros joguetes das ilusões ou propunham uma simples luta de modo que a revolução fosse enterrada depois?  Permitimo-nos dizer que, desde então, eles enterraram esse passado e liquidaram as ilusões de um mundo desaparecido.

O proletariado sofreu uma imensa derrota em 1945, e isto não poderia ser superado propondo uma ação compatível com as tarefas do proletariado num dado período sem relação com a situação atual. A derrota de 1945 assinalou a impossibilidade para o proletariado de suprimir a si mesmo e ao capital na área eslava, e em outras áreas, que apareceram depois de 1945, e de impedir o capital de efetuar sua dominação real sobre o nível social.  Primeira e inicialmente, no Ocidente, e depois em todo o planeta (na medida em que é a forma superior que domina as outras). O capital só pode consegui-lo realizando a dominação do ser imediato do proletariado – o trabalho produtivo.

Isso implica uma total ruptura com o que foi a teoria e a prática do movimento operário anterior a 1945.  E, visto que de 1923 a 1945 houve uma repetição do que ocorreu entre 1917 e 1923, podemos modificar nossa proposição e dizer que devemos romper com a teoria e a prática do movimento operário posterior a 1923.

Porém, não estamos propondo construir um novo movimento a partir das ruínas dos vários elementos do movimento proletário. Nem escrever um novo manifesto, um novo programa etc., ou retornar a Marx copiando suas atitudes por considerá-las mais revolucionárias.  O retorno a algo é freqüentemente a fuga de outra coisa, da realidade contemporânea. De fato, isto consiste em pensar nas lacunas de certas partes da obra de Marx, tornadas lacunas porque foram percebidas como tal.

Basicamente, a obra de Marx delineia três grandes períodos da humanidade com suas respectivas descontinuidades: a passagem do feudalismo ao modo de produção capitalista, o desenvolvimento do capitalismo e o vir-a-ser do comunismo. E abrange, também, outros momentos na história da espécie humana (formações pré-capitalistas), mas o que Marx descreve exaustivamente é o período da dominação formal do capital. No Manifesto, em Guerra Civil na França, em O Capital e na Crítica do Programa de Gotha há o reformismo revolucionário de Marx, que considerava as possibilidades da sociedade daquela época. Isto não o impediu de descrever o comunismo plenamente realizado (cf. as notas sobre o livro de J. Mill e certas passagens dos Grundisse) e de mostrar os elementos essenciais da passagem para a dominação real do capital, as características fundamentais do período atual; mas ele foi incapaz de fazer uma obra sintética (não por acaso, o capital não foi finalizado). Em conseqüência, ele não descreveu o vir-a-ser revolucionário do comunismo quando o modo de produção capitalista já tivesse alcançado sua dominação real (detalhadamente, como o fez com a passagem sobre a base da dominação formal).

Muitos respondem a isso dizendo que é falso afirmar que Marx forneceu todas as indicações necessárias, porque, em todo caso, mesmo durante a dominação real, haverá classes e portanto partidos.  Conseqüentemente, a classe revolucionária terá que se constituir em partido etc.

Não negamos que há invariantes, mas:

1) deve-se estabelecer o domínio da invariância, significando uma delimitação espaço-temporal, assim a classe invariante não ocupa uma área tão larga quanto a produção ou população invariante (invariantes chamados  verständige Abstraktion  na sua introdução de 1857);

2) o desenvolvimento, o vir-a-ser, acontece começando do particular e não do geral; deve-se, portanto, estudar as novas determinações.

Num nível mais profundo, devemos, devido à dominação real bem definida, repensar a teoria de Marx em seus aspectos essenciais e redescobrir certos pontos fundamentais que teriam sido omitidos, obliterados ou simplesmente desconsiderados porque não foram compreendidos. Isto não é hermenêutica, mas um esforço constantemente renovado para explicar concretamente e explicitar o que entendemos por comunismo como uma teoria mediante a qual a obra de Marx continua sendo pertinente. 

Essa teoria explica a constituição da humanidade em comunidades comunistas cujo conjunto formou o comunismo primitivo, sua dissolução pelo valor de troca e a autonomização deste, que é possível somente quando as forças produtivas são desenvolvidas num certo nível. Este movimento destruiu as comunidades e simultaneamente engendrou indivíduos e classes. Seu triunfo não foi, porém, uma fatalidade, ocorreu muitas vezes e as antigas comunidades tiraram provisoriamente vantagem dele. Triunfou, contudo, no Ocidente, com o modo de produção antigo, mas foi reabsorvido pelo modo de produção feudal. Somente à margem da sociedade feudal o valor de troca poderia retomar sua vitalidade e gerar o modo de produção capitalista, que só poderia dominar o processo de produção quando os homens fossem separados de seus meios de produção. Esta separação é o que Marx chamou de primeiro conceito de capital. O capital assim realizou o que o dinheiro não podia, a constituição de si mesmo numa comunidade material que captura toda a materialidade dos homens: a antropomorfose do capital, na medida em que os homens são capitalizados e reificados. Isto se conclui com a formação do capital fictício, resultando numa comunidade fictícia na qual o homem é totalmente bloqueado pelo mecanismo do capital, um ser tangível-intangível. O homem é completamente esvaziado, sua criatividade é bombeada e sugada, ele é até mesmo rejeitado pelo velho processo de produção. Ele tende a ser marginal, a ser a escória do capital. O capital é autonomizado e supera seus limites (uma espécie de supra-fusão do capital), mas ele não pode fazer isso sem os homens, a escória necessária. Eles são os limites do capital. A opressão constantemente crescente, e que é direta ou indiretamente acompanhada pela destruição da natureza, levará os proletários da classe universal a se revoltar contra o capital. É por isso que eles não podem mais extrair sua força do passado ou de antigas bases humanas que teriam sido conservadas nessa sociedade, porque tudo tem sido destruído. De fato, os proletários devem criar o movimento de sua libertação, eles não podem se apossar de velhos esquemas, o partido só pode ser o partido-Gemeinwesen, que não será capaz de se efetivar mediante o princípio de centralização ou seu oposto, o federalismo. É muito provável que a irrupção da classe universal crie diretamente organismos que serão compatíveis com a possibilidade comunista nesta sociedade, isto é, forme comunidades agindo com uma prática totalmente diversa da atual.  Não se pode prever os detalhes deste  fenômeno, mas já podemos percebê-lo como a única possibilidade de luta contra a comunidade do capital.  Tendência  a unificar várias atividades separadas, formação de uma outra unidade entre indústria e agricultura, de outras relações homem-mulher, além disso, o momento preciso da explosão revolucionária determinará a produção de uma forma mais ou menos elaborada.

O valor de troca enfrentou dificuldades adicionais para triunfar em áreas fora do Ocidente. Marx pensava que o modo de produção capitalista não se desenvolveria na Rússia. E que, pelo contrário, a obshchina, com suas particularidades, poderia ser o apoio para o rebento do comunismo depois da vitória da revolução no Ocidente. Seja como for, ele não imaginava que o modo de produção capitalista triunfaria facilmente na área eslava, tão grande era a vitalidade da obshchina com que ele contava. As reformas de Stolypin e o desenvolvimento do modo de produção capitalista na indústria fizeram com que Lênin e os bolcheviques errassem. Eles subestimaram a vitalidade e a resistência da obshchina. Talvez porque a obshchina já aparecesse menos nas estatísticas, mas ela não tinha sido eliminada enquanto comportamento da população adaptada a uma certa situação. Isto levou a uma atitude errônea perante os camponeses, ao forçar o desenvolvimento do modo capitalista de produção (cf. a questão da insurreição na Ucrânia e  Makhno, além da diversificada polêmica sobre a intenção dos bolcheviques de acelerar o desenvolvimento histórico).

O despotismo do Czar foi substituído pelo despotismo do capital, que só poderia ser realizado ao custo de uma horripilante repressão dos operários e camponeses. Uma repressão constantemente renovada como se a tendência para o comunismo fosse irremovível.

O movimento do valor de troca na Ásia tendeu a se autonomizar, diversas vezes. Classes e indivíduos começavam a se formar, mas, efetivamente, foi através da intervenção externa dos países capitalistas que o capital conseguiu se desenvolver. Mesmo assim, ele só domina formalmente a sociedade e atravessamos um período particularmente crucial de sua transição à dominação real, graças à comunidade capitalista mundial representada pelo capital dos EUA. A Ásia só se equilíbrará se as antigas comunidades básicas e centrais forem substituídas pelas comunidades do capital, dado que agora, devido à fraqueza do movimento revolucionário mundial, temos de excluir a possibilidade de uma transformação comunista.

Por definição, toda a história do homem é: a história da perda de sua comunidade, que era mais ou menos estrita e imersa na natureza (daí a idolatria da natureza), sob a ação do valor de troca; e a história da a luta contra o valor de troca, na forma-dinheiro (equivalente geral, dinheiro universal).  Então, o capital como comunidade opressiva põe a sua destruição como uma necessidade, para o homem encontrar a real gemeinwesen humana:  o ser humano como pólo universal e o homem social como pólo individual, bem como sua interpenetração harmoniosa.

Assim é o comunismo, teoria do proletariado em seu sentido clássico, e no sentido da classe universal 2 que já é negação em termos de classe e sua invariância.

Podemos sempre situar melhor as lacunas na obra de Marx deste ponto de vista, e simultaneamente captar todos os elementos que nos permitam compreender os fundamentos da presente dominação real do capital, a derrubada de seus pressupostos e sua substituição pelos pressupostos do capital, que, alcançando uma dominação real, engendra a delinqüência e a loucura.

Fazer esta síntese é importante, mas seria somente uma atividade parcial se não fosse ao mesmo tempo uma tentativa de ver como esta síntese já está em processo nas várias manifestações de diferentes elementos, mesmo se, às vezes, estão ainda em formas grupistas.

Maio foi o eclodir da revolução. Desde então, começou no interior da classe universal - que é ainda uma classe para o capital = o ajuntamento de “escravos” do capital - uma luta que levará à revolucionarização dessa classe e sua constituição em partido-comunidade, primeiro momento de sua negação. Este movimento contraditório é fundamentalmente um processo de eliminação do passado; esta classe não pode se representar sem ter eliminado as velhas determinações e representações. Evidentemente, isto com freqüência  vai ocorrer de maneira cômica, porque o passado só é rejeitado quando submetido a uma ressurreição paródica (das esquerdas russa e alemã, por exemplo).

Foi se baseando nas separações sociais imediatas, criadas pelo capital, que a consciência dos movimentos revolucionários americanos (Panteras Negras, Yippies), alemão e francês em maio de 1968 se sustentou. A oposição entre classe operária e classe média, baseada na distinção entre trabalho produtivo e improdutivo, produção e circulação, produção e consumo, foi tomada por Marx como base de sua visão da revolução socialista e da ditadura do proletariado. A perspectiva afirmava isso de modo igual, tanto para o desenvolvimento do capitalismo quanto para a ditadura do proletariado: a generalização da condição de trabalhador produtivo. Esta perspectiva está agora realizada e o potencial revolucionário de 1848 finalmente se esgotou. A produção para o capital é agora um fato da vida de toda a população. Mas a cada situação particular no processo do capital corresponde uma visão de “classe” que opõe trabalhadores de colarinho branco a operários, trabalhadores manuais a intelectuais, negros a brancos; operários a pequeno-burgueses; da mesma forma que as gangues do capital se opõem entre si 3

O movimento, na França e na Alemanha, foi considerado como sendo especificamente da pequena burguesia, vista como mero detonador de um movimento que só poderia ser o da classe operária. Ele nunca foi compreendido como movimento da classe universal. Não se entendeu a identidade das situações de cada um dentro (e diante) do capital. Porém, o movimento de 1968 foi a prova do desaparecimento das classes médias, como Marx as entendia, e o início da luta humana contra o capital.

A classe operária, categoria do capital, vai abandonar cada vez mais os velhos partidos sem se constituir em novas organizações, mas vivendo uma metamorfose que fará com que se junte a outros componentes da classe universal.

Só os nostálgicos podem dizer que o movimento de 1968 foi apenas uma confirmação, incapazes de pensar um processo revolucionário que vai demorar muitos anos para se concluir. Desde maio, vem ocorrendo o movimento de produção de revolucionários. Eles começaram a compreender as necessidades de revolução existentes, a representação do capital que paralisou os cérebros de todo mundo deve ser destruída. Isso não pode ser feito pela intervenção de grupos conscientes, impondo uma nova representação sobre nossos cérebros confusos, e nem é realizável de um só golpe no dia D determinado pelo destino, mas irromperá após uma longa luta que irá abranger cada faceta e todos os campos da vida que nos é imposta pelo capital.   Uma luta real efetiva não será adiada pelas desilusões de um delírio marxista/psicanalítico/estruturalista, nem pelo oposto: se as condições objetivas sempre amadurecem e as subjetivas não, se a organização é necessária e qual é sua melhor estrutura e o lugar mais útil... Tal delírio é o sonho do capital; uma eterna revolução permanente, porque nunca se desenvolve, sempre é retroagida por uma misteriosa “amarra”: a falta de certas condições objetivas, a falsificação de uma certa teoria.

Inutilmente, espera-se a revolução.  Ela já está vindo. Imperceptível para quem espera um sinal particular, uma “crise” liberando um vasto movimento insurrecional que produziria outro sinal essencial, a formação do partido etc.  Na verdade, o desequilíbrio começou antes.  Maio de 1968 foi apenas exteriorização, em todos os níveis do processo de vida do capital, há também os “tiros desperdiçados” que apesar de não terem sido transformados em crises no velho sentido, possibilitaram aos proletários destruir sua domesticação. A crescente ruína de nossa submissão real ao capital possibilitará que confrontemos a verdadeira questão da revolução, não a da modificação da vida, porque toda a vida foi escravizada, domesticada, desviada pela existência de classes por milênios, mas a da criação da vida humana.

(abril de 1972)

  • 1 e.g. Prudhommeaux. Cf. Invariance Série II, # 1 pp. 33-4.
  • 2 A classe universal pode ser organizada pelo capital – esta é a sua (do capital) maneira de negar as classes. Mas ela pode, a partir do momento em que é ionizada, migrar para o pólo comunista da sociedade.
  • 3 Os líderes do PCF obstinam-se em manter o proletariado clássico em seu gueto na sociedade. Eles o consideram sua propriedade privada, assim eles defendem com ferocidade suas “características” e “virtudes”. Eles o reduziram a uma prenda, que eles guardam zelosamente. Basta ver como eles latem, quando outros bandos invadem seu território.

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